A experiência da culpa é universal. Todo mundo que tem consciência sabe o que é ser culpado de alguma coisa. Sinto que agi mal, quando não segui a voz de minha consciência, deixando de cumprir o meu dever. Percebo que devo fazer certas coisas, que são boas: respeitar os outros, trabalhar, perdoar, e assim por diante. Se deixo livremente de fazer isso, sinto-me culpado. Percebo também que tenho obrigação de evitar outras coisas, que são más: mentir, roubar, agredir os outros, matar, etc. A culpa está no campo da moral. É uma falta contra mim mesmo. Não sou como quereria, como deveria ser.
A experiência do pecado é diferente, porque supõe a fé em Deus, uma relação pessoal com ele. Está no campo da religião. Para experimentar minhas culpas como pecado é preciso que eu acredite em Deus, como Criador e Pai, como alguém que me ama e manifestou este amor dando-me a vida atual, com todos os seus bens, e prometendo-me uma felicidade sem fim. Evidentemente quem não tem fé, também é culpado dos seus erros, embora não perceba que está desobedecendo a a Deus. Quem peca não age só contra a sua consciência e a sua dignidade; não desobedece só a uma lei ou norma de conduta; mas vira as costas a uma pessoa amiga, ofende o próprio Deus. Prefere seguir o seu capricho, que só traz desgraça, a fazer o que ele manda para o nosso bem. Por isso, o pecado, além de ser uma loucura, é um desrespeito e uma ingratidão, que fere o coração de Deus.
O nosso arrrependimento vai ser muito diferente, conforme experimentamos as nossas faltas só como culpa, ou também como pecado. No primeiro caso, fico insatisfeito com minha falta, porque queria ser perfeito, forte, coerente com meus propósitos, e tenho de reconhecer que fui fraco, que agi irracionalmente, que fiz algo que merece desprezo e condenação. Este arrependimento da culpa é amargo e estéril. É fruto do amor próprio ferido, que não aceita os próprios limites e luta sozinho para superar os seus defeitos.
O arrependimento do pecado é fruto do amor de Deus. É a consciência de que, apesar de tudo, ele está pronto a perdoar, continua a amar-me e a confiar em mim, que provoca a minha dor de tê-lo ofendido e o meu desejo de fazer tudo para agradá-lo. Não é a preocupação consigo e com sua realização que motiva a pessoa a levantar-se e caminhar, mas a gratidão humilde e confiante. Este arrependimento é fecundo, porque nos liberta do egoismo e conduz à verdadeira realização da nossa vida no amor de Deus e dos outros.
João A. Mac Dowell S.J
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