sexta-feira, 16 de maio de 2008

Os jovens e a Igreja


Os jovens não vão à igreja! Os jovens estão perdidos! Não há vocações! A Igreja é para os velhos e conservadores! Os jovens…!
Todos os dias ouvimos dizer nas nossas comunidades estas e tantas outras coisas que nos fazem perguntar: Porque é que os jovens já não se interessam pela Igreja? Assim colocada, a pergunta parece atirar a responsabilidade para o lado dos jovens. E esta é uma leitura perfeitamente lícita – o materialismo, o hedonismo, a falta de horizonte não são propriamente bichos raros entre a gente nova. A questão, contudo, pode muito bem ser virada ao contrário: “Será que os Jovens interessam à Igreja?” Os jovens como eles são, e não como gostaríamos que eles fossem. Não se trata de pôr em causa a instituição Igreja – os seus dois mil anos de história garantem-lhe uma sabedoria que não questiono – mas será que nós, Igreja, temos feito o esforço suficiente para falar a linguagem dos mais novos? Será que estamos dispostos a acolher os ventos de futuro que abanam as estruturas antigas e que muitas vezes põem em causa a nossa maneira de estar e pensar? Estaremos realmente abertos a uma diferença que ameaça, mas que não pode deixar de encerrar um dom? Os jovens não são os mesmos de há 40, 30 ou mesmo 10 anos atrás. E os seus problemas e sonhos também não. O mundo é outro e isso não pode ser esquecido ou ignorado!
Por exemplo em Portugal, nós, Igreja, olhamos muitas vezes com desconfiança fenómenos como os “Morangos com açúcar”, o iPod”, o “Messenger”, os telemóveis… Mas serão estas realidades simplesmente perigosas, ou antes possibilidades que poderiam fazer chegar aos jovens o Evangelho? Será que Jesus não olharia todos estes meios como uma imensa possibilidade?
E no entanto, continuamos a perder oportunidades quando criticamos a realidade, que nos parece adversa, sem antes fazer o esforço de descobrir nela uma dádiva que nos convida a ir mais além. Julgo que este é o ensinamento da cruz: Jesus abraça um mundo que o condena. Não para se submeter ao mundo, mas para fazer crescer o melhor que ele encerra.
Os jovens são intensos, são tecnológicos, são “computorizados”, mas continuam à procura das experiências verdadeiras e profundas, como procuravam os jovens do passado e como irão procurar os jovens do futuro. Só que cada tempo tem a sua maneira de procurar.
Os jovens, dizia o Papa João Paulo II, “são os primeiros protagonistas do terceiro milénio [...] são vocês que vão traçar os rumos desta nova etapa da humanidade”. Também o Papa Bento XVI tem manifestado o desejo de confiar aos jovens o futuro da Igreja e do mundo. Durante a sua visita ao Brasil em 2007 afirmava: “O meu apelo de hoje, a vós jovens, que viestes a este encontro, é que não desperdiceis a vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade humana. Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. Sois seu rosto jovem. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo, que se desenha na comunidade cristã. Sem o rosto jovem a Igreja apresentar-se-ia desfigurada.”
Os jovens são o futuro! A Igreja já mergulhou no terceiro milénio, e Jesus continuará a estar presente no mundo pelos jovens de hoje e do futuro. Por isso acredito que é preciso aprender, construir e viver com eles e não desacreditá-los, esquecê-los ou negar a sua realidade!

Pedro Palma

http://www.essejota.net



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