Distanciar-se
da família por determinado tempo para estudar e construir o próprio
futuro é algo aceitável. Mas quando se está longe dela, e se decide
embarcar para muito longe, sabendo—se que dificilmente voltará a vê-la,
mais ainda, sabendo que o pai acaba de falecer e não voltar nem para se
despedir da mãe e dos irmãos, é uma atitude totalmente incompreensível, a
não ser que haja motivo extraordinariamente especial.
Assim
aconteceu com José de Anchieta, quando tinha 17 anos. E o motivo
extraordinário foi o seu amor por Jesus Cristo, despertado quando
criança e agora consolidado através das contemplações dos Exercícios
Espirituais de Inácio de Loyola.
Aos
14 anos, seus pais enviaram-no para a Universidade de Coimbra,
juntamente com seu irmão mais velho. Nesse tempo os dois irmãos
receberam a visita de Juan de Anchieta, seu pai.
Durante
a estada em Coimbra, José conheceu os padres e irmãos do Colégio de
Jesus, e decidiu ser um deles entrando na Ordem fundada por um longínquo
parente seu, Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus.
Durante
o noviciado - os dois primeiros anos de formação jesuítica - Anchieta
escuta durante as refeições as leituras das cartas de Francisco Xavier,
missionário na Índia, e também as de outros jesuítas que estão no
Brasil.
Essas
leituras vão avivando nele o desejo de entregar sua vida para a
conquista de mais corações a Cristo Rei. Ele deseja trabalhar na
conversão, na evangelização e catequese dos habitantes do Novo Mundo.
Discernindo com seus superiores, José de Anchieta vê confirmados os anseios de seu jovem coração.
A
data do embarque já está prevista e não pode ser mudada porque não se
sabe quando haverá outra oportunidade. Mesmo com a dolorosa notícia da
morte de seu pai, Anchieta decide viajar para o Brasil, sem se desviar
para as Canárias para abraçar sua mãe, viúva pela segunda vez.
O amor a Cristo é mais forte que o amor à mãe e aos irmãos. É o apelo do Rei Eterno e Universal, como escreveu Inácio de Loyola.
Amor
com amor se paga. Certamente nesse momento de dor e de decisão, Jesus, o
Coração de Jesus, introduziu José em sua chaga e o conservou dentro do
ambiente de amor. O Senhor o convocou por amor, ele respondeu por amor.
Por amor e no amor o Senhor o sustentou.
Chegando
ao Brasil, o coração do jovem Anchieta começou a amar aqueles a quem
veio falar do Amado, não só falar, mas a praticar sua fé com obras.
Ele
fez-e tudo para todos! Aprendeu a língua tupi, escreveu sua gramática e
um vocabulário, observou o que mais atraía os indígenas, criou peças
teatrais, músicas, usou um modo compreensível aos índios para passar os
pontos importantes da Doutrina Cristã, suscitou o desejo do batismo e de
outros sacramentos, defendeu os aborígenes da cobiça portuguesa, lutou
pela dignidade deles e respeito por seus direitos humanos.
Trabalhou e conseguiu mudar o costume antropofágico.
Também em relação aos negros da Guiné, Anchieta lutou pelos direitos deles e os evangelizou.
Os
portugueses e outros estrangeiros que pelo Brasil passaram não ficaram
fora da visão catequética do Beato. De fato, José de Anchieta se tornou o
José do Brasil. Tudo isso por amor a Jesus Cristo, para instaurar seu
Reino de Justiça e de Amor.
Ordenado
sacerdote do Altíssimo, continuou anunciando o Evangelho e agora,
também caminhando longas distâncias para encontrar o penitente, ouvir
sua confissão e lhe dar a absolvição dos pecados.
Do mesmo modo que o Senhor deixou o Pai e se encarnou se assemelhando a nós, para nos anunciar o amor de Deus,
José
de Anchieta deixou sua família, seus amigos, sua pátria, sua cultura
para ser um dos nossos, anunciando o quanto somos amados por Jesus.
Se
o Senhor se fez homem por amor, Anchieta se fez o José do Brasil para
seguir o amor de Jesus e, assim, nos revelar o coração de Deus.
Pe. Cesar Augusto, SJ
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