sábado, 9 de junho de 2012

ANCHIETA E O SEGUIMENTO DE CRISTO

Distanciar-se da família por determinado tempo para estudar e construir o próprio futuro é algo aceitável. Mas quando se está longe dela, e se decide embarcar para muito longe, sabendo—se que dificilmente voltará a vê-la, mais ainda, sabendo que o pai acaba de falecer e não voltar nem para se despedir da mãe e dos irmãos, é uma atitude totalmente incompreensível, a não ser que haja motivo extraordinariamente especial.

Assim aconteceu com José de Anchieta, quando tinha 17 anos. E o motivo extraordinário foi o seu amor por Jesus Cristo, despertado quando criança e agora consolidado através das contemplações dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola.

Aos 14 anos, seus pais enviaram-no para a Universidade de Coimbra, juntamente com seu irmão mais velho. Nesse tempo os dois irmãos receberam a visita de Juan de Anchieta, seu pai.
Durante a estada em Coimbra, José conheceu os padres e irmãos do Colégio de Jesus, e decidiu ser um deles entrando na Ordem fundada por um longínquo parente seu, Inácio de Loyola, a Companhia de Jesus.

Durante o noviciado - os dois primeiros anos de formação jesuítica - Anchieta escuta durante as refeições as leituras das cartas de Francisco Xavier, missionário na Índia, e também as de outros jesuítas que estão no Brasil.

Essas leituras vão avivando nele o desejo de entregar sua vida para a conquista de mais corações a Cristo Rei. Ele deseja trabalhar na conversão, na evangelização e catequese dos habitantes do Novo Mundo.

Discernindo com seus superiores, José de Anchieta vê confirmados os anseios de seu jovem coração.
A data do embarque já está prevista e não pode ser mudada porque não se sabe quando haverá outra oportunidade. Mesmo com a dolorosa notícia da morte de seu pai, Anchieta decide  viajar para o Brasil, sem se desviar para as Canárias para abraçar sua mãe, viúva pela segunda vez.

O amor a Cristo é mais forte que o amor à mãe e aos irmãos. É o apelo do Rei Eterno e Universal, como escreveu Inácio de Loyola.
Amor com amor se paga. Certamente nesse momento de dor e de decisão, Jesus, o Coração de Jesus, introduziu José em sua chaga e o conservou dentro do ambiente de amor. O Senhor o convocou por amor, ele respondeu por amor. Por amor e no amor o Senhor o sustentou.

Chegando ao Brasil, o coração do jovem Anchieta começou a amar aqueles a quem veio falar do Amado, não só falar, mas a praticar sua fé com obras.
Ele fez-e tudo para todos! Aprendeu a língua tupi, escreveu sua gramática e um vocabulário, observou o que mais atraía os indígenas, criou peças teatrais, músicas, usou um modo compreensível aos índios para passar os pontos importantes da Doutrina Cristã, suscitou o desejo do batismo e de outros sacramentos, defendeu os aborígenes da cobiça portuguesa, lutou pela dignidade deles e respeito por seus direitos humanos.
Trabalhou e conseguiu mudar o costume antropofágico.
Também em relação aos negros da Guiné, Anchieta lutou pelos direitos deles e os evangelizou.

Os portugueses e outros estrangeiros que pelo Brasil passaram não ficaram fora da visão catequética do Beato. De fato, José de Anchieta se tornou o José do Brasil. Tudo isso por amor a Jesus Cristo, para instaurar seu Reino de Justiça e de Amor.
Ordenado sacerdote do Altíssimo, continuou anunciando o Evangelho e agora, também caminhando longas distâncias para encontrar o penitente, ouvir sua confissão e lhe dar a absolvição dos pecados.

Do mesmo modo que o Senhor deixou o Pai e se encarnou se assemelhando a nós, para nos anunciar o amor de Deus,
José de Anchieta deixou sua família, seus amigos, sua pátria, sua cultura para ser um dos nossos, anunciando o quanto somos amados por Jesus.

Se o Senhor se fez homem por amor, Anchieta se fez o José do Brasil para seguir o amor de Jesus e, assim, nos revelar o coração de Deus.
Pe. Cesar Augusto, SJ

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