O Papa Francisco tem chamado atenção para o significado da Companhia de Jesus na Igreja. Reproduzimos a seguir um trecho da fala do Cardeal Maria Martini, publicado no livro “Diálogos noturnos em Jerusalém”*. (Foto da capa: Pe. Arrupe, Superior Geral dos Jesuítas no período que antecedeu ao "inverno sombrio" do triunvirato Ratzinger, Wojtyla e Kolvenbach).Uma maneira atual poderia ser enfatizar a atenção que Inácio dava a cada pessoa e sua coragem de empreender grandes tarefas, quando eram poucos os jesuítas e escassos os recursos. Inácio se deixou mover pelas pessoas e por suas carências, que o transforaram num visionário. Ele contava com o poder de Deus. “Engajar-se como se tudo dependesse de você, e, contudo, saber que tudo depende de Deus”. Dessa tensão criadora, recebeu forças inesgotáveis.
Os Papas confiaram à Ordem, algumas vezes, grandes missões, quase impossíveis de cumprir, missões como o enfrentamento com o ateísmo e, mais recentemente, o diálogo com o Islã. Uma das últimas Congregações Gerais conferiu prioridade à articulação fé e justiça e fundou muitas obras e movimentos sociais.
Os Papas confiaram à Ordem, algumas vezes, grandes missões, quase impossíveis de cumprir, missões como o enfrentamento com o ateísmo e, mais recentemente, o diálogo com o Islã. Uma das últimas Congregações Gerais conferiu prioridade à articulação fé e justiça e fundou muitas obras e movimentos sociais.
Refugiados na África. (Foto: ) |
Para o Superior Geral Pedro Arrupe, o Serviço Jesuíta aos Refugiados constituiu uma questão especial, e hoje é mais atual que nunca. Também, existe na África uma rede jesuíta africana para atender às pessoas com AIDS.
Padre Georg, sua obra a favor de crianças de rua corresponde inteiramente à à nossa atual missão. O senhor começou num momento de necessidade, quando caiu a Cortina de Ferro. Sem pestanejar, o senhor reagiu a um desafio que a Europa antes não conhecia. Admiro o engajamento apaixonado dos jovens nesse projeto.
As mudanças na Europa são uma chance para a Companhia de Jesus. Ela deve sair a campo e arriscar tudo. Deve demonstrar coragem, pois de outra forma não será o que Inácio queria de nós. Certa vez afirmou que passaria a se preocupar com a Ordem quando esta deixasse de ser perseguida. Os companheiros perguntaram o que queria dizer com isso. Se não chocamos ninguém, teria disto Inácio, deixamos de cumprir nossa missão.
Talvez nos falte hoje essa radicalidade. Isto poderia ser um dos motivos porque jovens não encontram mais a coragem de se decidir por uma vida como jesuíta.
Qual a missão dos jesuítas hoje?
Nós jesuítas devemos ajudar as pessoas a entender o sentido da vida. Temos o convite de jesus para ser seus amigos, para viver com Ele e para trabalhar com Ele. A pessoa mais valiosa será aquela que procura a pobreza em vez da riqueza, que aceita humilhações e desprezo, em vez de procurar honras mundanas, e que sabe que as dificuldades podem ajudar no amadurecimento humano. Ela se torna consciente de si, sabe porque vive neste mundo, tem um coração alegre. Esta realização e a esperança no que ainda virá é o ganho que Jesus oferece. “Quem perde a sua vida por causa de mim, vai ganhá-la” (Mt 10,39b). Queremos confiar nesta palavra e nos antecipar a ela.
Diálogos noturnos em Jerusalém. Sobre o risco da fé. Ed. Paulus, SP: 2009, págs. 103-105.
Cardeal Carlo Maria Martini ( Fonte Revista Dom Total)