O título da coluna de hoje não é plágio, é uma recomendação. Leiam ou releiam o livrinho de Carmita Overbeck, “Rezar com simplicidade” (Ed. Paulinas). De fato, Deus esconde-se nas coisas simples onde, como disse o poeta Carlos Pena Filho, “a vida morava e o amor nascia”. A intimidade com essas coisas pequenas sobre as quais repousam vestígios de nosso afeto ajuda-nos a rezar, a encontrar Deus no mais concreto de nossa vida. Rezar com a matéria, com a realidade mais cotidiana de nossa vida é talvez o primeiro passo para descobrirmos o rosto de um Deus extremamente íntimo a nós e à criação.
Há pouco terminei meu retiro anual, oito dias de Exercícios Espirituais para guardar o rumo e avivar o sentido da vida. Durante esse tempo, uma das características do lugar no qual me encontrava era a de abrigar um cemitério onde se encontram os restos de inúmeros jesuítas missionários nessa região. Na minha caminhada diária, todos os dias visitava essas pessoas cujos nomes, rostos e histórias me eram desconhecidos. Todos os dias. Foi a primeira vez que senti-me levado a rezar com simplicidade diante da morte, diante desses ossos guardados com afeto, objetos “onde a vida morava e o amor nascia” – repetindo o verso já citado.
O mais curioso aconteceu-me num dia quando, ali chegando, deparei-me com algumas tumbas abertas, os ossos arrumados numa caixa diante de cada túmulo, uma etiqueta identificando os vestígios que quem ali estava. Era o momento em que exumavam-se os ossos após dez anos de espera na terra, transferindo-os para o ossuário que se situa no mesmo local. Não sabia que o estavam fazendo e, devo admitir, provavelmente não iria caso soubesse. Entretanto, nunca havia experimentado – mais que saber, mais que pensar – como nossa grandeza esconde-se em tão pequena coisa... Naquele instante, minha oração encheu-se de agradecimento ao Pai, Aquele que nos chamou à dignidade de filhos seus, nós, a inveja dos anjos e cuja imensidão está mergulhada em tamanha fragilidade. Somos grandes, somos pequenos, somos amados como cada um, como cada pessoa, como únicos e insubstituíveis. Ajudou-me a rezar com a simplicidade uma pedra que repousa no chão desse mesmo lugar e na qual está escrito o seguinte texto:
Há pouco terminei meu retiro anual, oito dias de Exercícios Espirituais para guardar o rumo e avivar o sentido da vida. Durante esse tempo, uma das características do lugar no qual me encontrava era a de abrigar um cemitério onde se encontram os restos de inúmeros jesuítas missionários nessa região. Na minha caminhada diária, todos os dias visitava essas pessoas cujos nomes, rostos e histórias me eram desconhecidos. Todos os dias. Foi a primeira vez que senti-me levado a rezar com simplicidade diante da morte, diante desses ossos guardados com afeto, objetos “onde a vida morava e o amor nascia” – repetindo o verso já citado.
O mais curioso aconteceu-me num dia quando, ali chegando, deparei-me com algumas tumbas abertas, os ossos arrumados numa caixa diante de cada túmulo, uma etiqueta identificando os vestígios que quem ali estava. Era o momento em que exumavam-se os ossos após dez anos de espera na terra, transferindo-os para o ossuário que se situa no mesmo local. Não sabia que o estavam fazendo e, devo admitir, provavelmente não iria caso soubesse. Entretanto, nunca havia experimentado – mais que saber, mais que pensar – como nossa grandeza esconde-se em tão pequena coisa... Naquele instante, minha oração encheu-se de agradecimento ao Pai, Aquele que nos chamou à dignidade de filhos seus, nós, a inveja dos anjos e cuja imensidão está mergulhada em tamanha fragilidade. Somos grandes, somos pequenos, somos amados como cada um, como cada pessoa, como únicos e insubstituíveis. Ajudou-me a rezar com a simplicidade uma pedra que repousa no chão desse mesmo lugar e na qual está escrito o seguinte texto:
“Esses homens que viveram de modo discreto e anônimo, homens que foram intelectuais, pregadores e professores renomados, homens que deram suas vidas pelo Evangelho,
pela Igreja e pelos empobrecidos, homens que viveram com fé e simplicidade em um mundo que nunca entendeu sua pobreza, castidade e obediência, homens que trouxeram a Companhia de Jesus até esse momento. Por eles nós damos graças a Deus.”
34a Congregação Geral dos Jesuítas)
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