segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pensando no Natal


O que mais falta no Natal é reflexão. Se parássemos para pensar um pouco, perceberíamos melhor o seu significado. E nos daríamos conta de quanto o mistério da encarnação ilumina a humanidade. De tal modo que o nascimento do Menino Jesus, em Belém de Judá, confere sentido a “todo homem que vem a este mundo”.
O Evangelho observa, com perspicácia, que a primeira reação de Maria, diante da proposta do anjo Gabriel, foi pensar. “Maria começou a pensar qual seria o significado daquela saudação” (Lc 1,29).
Começar a pensar é, portanto, a primeira recomendação do Natal.
Também José fez a mesma coisa. Ele também se pôs a pensar. Enquanto mergulhava nos seus pensamentos, pôde compreender a missão que o Senhor lhe confiava. Sem pensar, não teria se colocado em sintonia com a vontade de Deus, que o convidava a assumir uma missão que empenharia por inteiro sua vida, e lhe daria uma dignidade inesperada.
Depois do nascimento de Jesus, Maria continuou a pensar. “Maria guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração.” (Lc 2,19).
A encarnação do Filho de Deus é um fato que transcende as circunstâncias históricas em que ela aconteceu. Seu significado vai além da singularidade das pessoas diretamente envolvidas no cenário histórico do acontecimento de Belém.
Como Maria, também somos convidados a continuar pensando no seu significado. Para dar-nos conta de como o mistério de Deus, que assume a natureza humana, repercute em toda a humanidade. De tal modo que toda criança, em qualquer época, em qualquer lugar, em qualquer povo, em qualquer cultura, de qualquer raça, todo nascimento, todos os seres humanos, são agora assumidos por Deus, e carregam uma dignidade nova, que lhes é conferida pelo fato de Deus ter assumido nossa condição humana, pela encarnação do seu Filho.
As circunstâncias históricas do nascimento de Jesus são contingentes e transitórias. O fato fundamental é o mistério de encarnação, cujo significado permanece, desafiando nossa inteligência.
E´ preciso resgatar o alcance universal do mistério da encarnação. E relativizar as contingências históricas em que ele se deu. Para não aprisioná-lo dentro destas circunstâncias, impedindo que ele possa ser apropriado por todos os povos, em todos os tempos.
O fato do Filho de Deus ter nascido em determinado país e em determinado povo, não o torna propriedade exclusiva de tal povo ou de tal lugar. O próprio Jesus fez questão de se desvencilhar das amarras de Nazaré e de seus familiares, para se sentir à vontade entre aqueles que acolhiam a mensagem transcendente que ele anunciava.
Ele mesmo, quando adulto, não deu importância a Belém, o lugar onde tinha nascido. Ficava tão perto de Jerusalém, bem que podia ter passado por lá, e mostrado aos discípulos onde tinha nascido! A contrário, preferiu atravessar as fronteiras ao norte, sinalizando a destinação universal do seu Evangelho.
Depois de dois mil anos, o Natal de Jesus nos faz procurar sua repercussão nem tanto na extensão geográfica de sua Igreja. Mas na profundidade do compromisso de Deus com a humanidade, simbolizado pela encarnação do seu Filho.
Pensando bem, os fatos de Belém ainda nos convidam à meditação. Para entendermos como a encarnação de Deus, acontecida plenamente em Jesus, repercute em todos os nascidos, não só em Belém, mas em Pequim também. E em toda criatura humana, em qualquer época e em qualquer lugar deste mundo.

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