domingo, 25 de setembro de 2011

ALEMANHA: DISCURSO DO PAPA AOS JOVENS

Viagem apostólica de Bento XVI
FRIBURGO, sábado, 24 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos o discurso que Bento XVI dirigiu hoje na vigília de oração com os jovens na Feira de Freiburg im Breisgau.
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Queridos jovens amigos!
Durante todo o dia, pensei com alegria a esta noite, quando poderia estar aqui junto convosco e estar unido a vós na oração. Talvez alguns de vós tenham estado presentes na Jornada Mundial da Juventude, onde pudemos experimentar a singular atmosfera de serenidade, profunda comunhão e íntima alegria que caracteriza uma vigília nocturna de oração. Espero que possamos nós também fazer a mesma experiência neste momento: Que o Senhor nos toque e faça de nós testemunhas jubilosas, que rezam juntas e servem de suporte umas às outras não só nesta noite, mas durante toda a nossa vida.
Em todas as igrejas, nas catedrais e nos conventos, em toda a parte onde se reúnem os fiéis para a celebração da Vigília Pascal, a mais santa de todas as noites começa com o acendimento do círio pascal, cuja luz é transmitida a todos os presentes. Uma minúscula chama irradia-se para muitas luzes e ilumina a casa de Deus que estava às escuras. Neste maravilhoso rito litúrgico que imitámos nesta vigília de oração, desvenda-se-nos, através de sinais mais eloquentes do que as palavras, o mistério da nossa fé cristã. Jesus, que diz de Si próprio: «Eu sou a luz do mundo» (Jo 8, 12), faz brilhar a nossa vida, para ser verdadeiro o que acabámos de ouvir no Evangelho: «Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 14). Não são os nossos esforços humanos nem o progresso técnico do nosso tempo que trazem a luz a este mundo. Experimentamos sempre de novo que o nosso esforço por uma ordem melhor e mais justa tem os seus limites. O sofrimento dos inocentes e, enfim, a morte de cada homem constituem uma escuridão impenetrável que pode talvez ser momentaneamente iluminada por novas experiências, como a noite o é por um relâmpago; mas, no fim, permanece uma escuridão acabrunhadora.
Ao nosso redor pode haver a escuridão e as trevas, e todavia vemos uma luz: uma chama pequena, minúscula, que é mais forte do que a escuridão, aparentemente tão poderosa e insuperável. Cristo, que ressuscitou dos mortos, brilha neste mundo, e fá-lo de modo mais claro precisamente onde tudo, segundo o juízo humano, parece lúgubre e sem esperança. Ele venceu a morte – Ele vive – e a fé n’Ele penetra, como uma pequena luz, tudo o que é escuro e ameaçador. Certamente quem acredita em Jesus não é que vê sempre só o sol na vida, como se fosse possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades, mas há sempre uma luz clara que lhe indica um caminho que conduz à vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Os olhos de quem acredita em Cristo vislumbram, mesmo na noite mais escura, uma luz e vêem já o fulgor dum novo dia.
A luz não fica sozinha. Ao seu redor, acendem-se outras luzes. Sob os seus raios, delineiam-se de tal modo os contornos do ambiente que nos podemos orientar. Não vivemos sozinhos no mundo. Precisamente nas coisas importantes da vida, temos necessidade de outras pessoas. Assim, de modo particular na fé, não estamos sozinhos, somos anéis na grande corrente dos crentes. Ninguém chega a crer, senão for sustentado pela fé dos outros; mas, por outro lado, com a minha fé contribuo para confirmar os outros na sua fé. Ajudamo-nos mutuamente a ser exemplo uns para os outros, partilhamos com os outros o que é nosso, os nossos pensamentos, as nossas acções, a nossa estima. E ajudamo-nos mutuamente a orientar-nos, a identificar o nosso lugar na sociedade.
Queridos amigos, diz o Senhor: «Eu sou a luz do mundo; vós sois a luz do mundo». É uma coisa misteriosa e magnífica que Jesus tenha dito de Si próprio e de cada um de nós a mesma coisa, ou seja, que «somos luz». Se acreditarmos que Ele é o Filho de Deus que curou os doentes e ressuscitou os mortos, antes, que Ele mesmo ressuscitou do sepulcro e está verdadeiramente vivo, então compreenderemos que Ele é a luz, a fonte de todas as luzes deste mundo. Nós, ao contrário, não cessamos de experimentar a falência dos nossos esforços e o erro pessoal, apesar das melhores intenções. Ao que parece, não obstante o seu progresso técnico, o mundo onde vivemos, em última análise, não se tem tornado melhor. Existem ainda guerras, terror, fome e doença, pobreza extrema e desalmada repressão. E mesmo aqueles que, na história, se consideraram «portadores de luz», mas sem ter sido iluminados por Cristo que é a única verdadeira luz, para dizer a verdade, não criaram paraíso terrestre algum, antes instauraram ditaduras e sistemas totalitários onde até a mais pequena centelha de humanismo foi sufocada.
Neste ponto, não devemos calar o facto de que o mal existe. Vemo-lo em tantos lugares deste mundo; mas vemo-lo também – e isto assusta-nos – na nossa própria vida. Sim, no nosso próprio coração, existe a inclinação para o mal, o egoísmo, a inveja, a agressividade. Com uma certa autodisciplina, talvez isto se possa, em certa medida, controlar. Caso diverso e mais difícil se passa com formas de mal mais escondido, que podem envolver-nos como um nevoeiro indefinido, tais como a preguiça, a lentidão no querer e no praticar o bem. Repetidamente, ao longo da história, pessoas atentas fizeram notar que o dano para a Igreja não vem dos seus adversários, mas dos cristãos tíbios. Então como pode Cristo dizer que os cristãos – sem ter excluído os cristãos fracos e frequentemente tão tíbios –são a luz do mundo? Compreenderíamos talvez que Ele tivesse gritado: Convertei-vos! Sede a luz do mundo! Mudai a vossa vida, tornai-a clara e resplandecente! Não será caso de ficar maravilhados ao vermos que o Senhor não nos dirige um apelo, mas diz que somos a luz do mundo, que somos luminosos, que resplandecemos na escuridão?
Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas, não tem receio de designar por «santos» os seus contemporâneos, os membros das comunidade locais. Aqui torna-se evidente que cada baptizado – ainda antes de poder realizar boas obras ou particulares acções – é santificado por Deus. No baptismo, o Senhora acende, por assim dizer, uma luz na nossa vida, uma luz que o Catecismo chama a graça santificante. Quem conservar essa luz, quem viver na graça, é efectivamente santo.
Queridos amigos, a imagem dos santos foi repetidamente objecto de caricatura e apresentada de modo distorcido, como se o ser santo significasse estar fora da realidade, ser ingénuo e viver sem alegria. Não é raro pensar-se que um santo seja apenas aquele que realiza acções ascéticas e morais de nível altíssimo, pelo que se pode certamente venerar mas nunca imitar na própria vida. Como é errada e desalentadora esta visão! Não há nenhum santo, à excepção da bem-aventurada Virgem Maria, que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído alguma vez. Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilastes e caístes na vida, como sobretudo de quantas vezes vos erguestes. Não exige acções extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos. Sim, vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos, não porque realizais coisas singulares e extraordinárias, mas porque Ele, Cristo, é a vossa vida. Sois santos, porque a sua graça actua em vós.
Queridos amigos, nesta noite em que nos reunimos em oração ao redor do único Senhor, vislumbramos a verdade da palavra de Cristo segundo a qual não pode ficar escondida uma cidade situada no cimo de um monte. Esta assembleia brilha nos vários significados da palavra: quer no clarão de inúmeras luzes, quer no resplendor de tantos jovens que acreditam em Cristo. Uma vela só pode dar luz, se se deixar consumir pela chama; permaneceria inútil, se a sua cera não alimentasse o fogo. Permiti que Cristo arda em vós, ainda que isto possa às vezes implicar sacrifício e renúncia. Não tenhais medo de poder perder alguma coisa, ficando, no fim, por assim dizer de mãos vazias. Tende a coragem de empenhar os vossos talentos e os vossos dotes pelo Reino de Deus e de vos dar a vós mesmos – como a cera da vela –, para que o Senhor ilumine, por vosso meio, a escuridão. Sabei ousar ser santos ardorosos, em cujos olhos e coração brilha o amor de Cristo e que, deste modo, trazem luz ao mundo. Eu confio que vós e muitos outros jovens aqui na Alemanha sejam chamas de esperança, que não ficam escondidas. «Vós sois a luz do mundo». Amen.
[Copyright 2011 - ©Libreria Editrice Vaticana]

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