segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Tens de me pegar primeiro


Gran Vía. São dezassete horas e alguns minutos. Esta avenida não pára um segundo, é das mais movimentadas. Pi-pi-pi-pi. Sinal irritante o do semáforo para peões. Não sei se será verdade se não, mas estes semáforos não estão feitos a pensar em possíveis turistas alentejanos. De facto, cheguei à outra margem em tempo limite. Mas, sim esta agitação e movimentação, dos transportes, chegam também aos peões que andam de passo muito apressado pelas ruelas de Madrid. Depois de largos passados, estranho aquela pequeníssima praça que me obriga a desacelarar. De um lado, a avó e uma neta a comer um gelado, atrás dois polícias atentos ao trânsito, em frente uma esplanada muito bem composta, entretanto bastante malta nova a passear e elas ali paradas encostadas as umas grades. Parei e discretamente observei-as. Eram prostitutas. Várias. Espalhadas. Olhei à volta de novo. A malta nova a passar, a neta de mão dada à avó, as esplanadas muito bem composta. Tudo no mesmo lugar. E eles. Eles a tomarem conta delas. Observam-nas à distância. Avancei e circulei adiante, de passo meio tremido.
Ela demasiado pintada encostada a uma parede de grafittis e ele de mochila às costas. Rapaz novo, pareceu-me. Tens de me pagar primeiro – dizia-lhe ela em espanhol. Era um cenário inacreditável. Mesmo ao lado, com muita naturalidade um conjunto de turistas fotografa um edifício antigo e vistoso. E na rua perpendicular, do outro lado, a casa delas. Olhei para uma delas. E ela olhou para mim. O que estás aí a fazer? – pensei pausadamente. A pausa do meu pensamento deu-lhe (a ela) tempo para me olhar de novo. Com um olhar de cliente. Continuei a descer a rua, com naturalidade no meio de muita movimentação, restaurantes e esplanadas cheias e expressivas. Na mesma praça uma mistura inexplicável de situações. Abri o mapa. E avançara em diante pela avenida.
Nuno branco, sj

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