sexta-feira, 4 de julho de 2008

XIV Domingo do tempo comum - Mt. 11, 25-30

O escondido aos sábios e revelado aos pequenos

A passagem evangélica deste domingo, uma das páginas mais intensas e profundas do Evangelho, compõe-se de três partes: uma oração («Eu te louvo, Pai...»), uma declaração sobre ele mesmo («Tudo me foi dado por meu Pai...») e um convite («Vinde a mim todos os que estais cansados e fatigados...»). Eu me limitarei a comentar o primeiro elemento, a oração, pois contém uma revelação de uma importância extraordinária: «Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelaste revelado aos pequenos. Sim, Pai, porque assim o quiseste».
Acaba de começar o Ano Paulino e o melhor comentário a estas palavras de Jesus é apresentado por São Paulo na primeira carta aos Coríntios: «De fato, irmãos, reparai em vós mesmos, os chamados: não há entre vós muitos sábios de sabedoria humana, nem muitos poderosos, nem muitos de família nobre. Mas o que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios, e o que para o mundo é fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte. Deus escolheu o que no mundo não tem nome nem prestígio, aquilo que é nada, para mostrar a nulidade dos que são alguma coisa. Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de Deus» (1 Cor 1, 26-29).
As palavras de Cristo e de Paulo chamam a atenção em particular ao mundo de hoje. É uma situação que se repete. Os sábios e os inteligentes ficam afastados da fé, com freqüência vêem com pena a multidão dos crentes, que reza, que crê nos milagres, que se agrupa ao redor do Padre Pio. Ainda que para dizer a verdade não são todos os doutos, e talvez nem sequer a maioria, mas certamente é a parte mais influente que tem à disposição os microfones mais potentes, a chatting society, como se diz em inglês, a sociedade que tem acesso aos grandes meios de comunicação.
Muitos deles são pessoas honestas e sumamente inteligentes e sua posição se deve à formação, ao ambiente, a experiências de vida, e nem tanto a uma resistência diante da verdade. Portanto, não se trata de emitir um juízo sobre estas pessoas com nomes e sobrenomes. Eu mesmo conheço algumas delas e lhes tenho uma grande estima. Mas isso não deve impedir-nos de descobrir o núcleo do problema. O fechamento a toda a revelação do alto e, portanto, à fé, não é causado pela inteligência, mas pelo orgulho. Um orgulho particular que consiste na rejeição de toda dependência e na reivindicação de uma autonomia absoluta por parte do pensador.
Esconde-se por trás da trincheira da palavra mágica «razão», mas na realidade não é a famosa «razão pura», que o exige, nem uma razão «soberana», mas uma razão escrava, com as asas cortadas. Filósofos, que não podem ser acusados de falta de inteligência ou de capacidade dialética, escreveram: «O ato supremo da razão está em reconhecer que há uma infinidade de coisas que a superam» (Pascal). Outro dizia: «Até agora sempre se disse isso: ‘Dizer que não se pode compreender isso ou aquilo não satisfaz a ciência que quer compreender’. Este é o erro. É preciso dizer o contrário: quando a ciência humana não quer reconhecer que há algo que não pode compreender, ou de maneira mais precisa, algo que com clareza pode ‘compreender que não pode compreender’, ou de maneira mais precisa, algo que com clareza pode ‘compreender que não pode compreender’, então tudo fica transtornado. Portanto, uma tarefa do conhecimento humano consiste em compreender que há coisas que ele não pode compreender, e descobrir quais são estas» (Kierkegaard). Quem não reconhece esta capacidade transcendente põe um limite à razão e a humilha; não o faz, portanto, o crente, que o reconhece.
O que eu disse explica o motivo pelo qual o pensamento moderno, depois de Nietzsche, substituiu o valor da verdade pelo da busca da verdade e, portanto, da sinceridade. Em certas ocasiões, esta atitude se confunde com a humildade (é preciso contentar-se com o «pensamento frágil»!) e a atitude de quem crê em verdades absolutas se considera como presunção, mas é um juízo muito superficial. Enquanto a pessoa está em busca, ela é o protagonista, dirige o jogo. Uma vez encontrada a verdade, a verdade tem de subir ao trono e o buscador deve inclinar-se diante dela e isto, quando se trata da Verdade transcendente, custa o «sacrifício do intelecto».
Neste panorama cultural, cai como uma provocação o que Jesus diz no Evangelho de João: «Eu sou a Verdade», assim como o que diz depois na passagem evangélica: «Ninguém vai ao Pai senão por mim... Vinde a mim todos os que estais cansados e fatigados e eu vos aliviarei». Mas é um convite, não é uma reprovação, e está dirigido também aos cansados de buscar sem encontrar nada, a quem passou a vida atormentando-se, dando murros contra a rocha do mistério.O psicólogo C. G. Jung, em seu livro, diz que todos os pacientes de uma certa idade aos que havia atendido sofriam de algo que podia chamar-se «ausência de humildade» e não se curavam enquanto não alcançavam uma atitude de respeito por uma realidade maior que eles, ou seja, uma atitude de humildade.
Jesus repete também a tantos inteligentes e sábios honestos que existem no mundo de hoje seu convite cheio de amor: Vinde a mim todos os que estais cansados e fatigados e eu vos darei esse alívio e essa paz que buscais em vão em vossos atormentados raciocínios.
Cantalamessa, OFM

Nenhum comentário: