domingo, 31 de agosto de 2008

22º Evangelho do Tempo Comum

Não é fácil comunicar-se. Cada um de nós conhece o drama de tentar fazer-se entender, de tentar exprimir sem sucesso seu sentimento, seu pensamento ou sua intenção. A situação que encontramos no Evangelho de hoje é o início dos tropeços nas palavras que levarão o Messias à sua Cruz: eles não o escutaram, não o entenderam, calaram-no.Palavras podem matar, de fato. Descuidamos às vezes dessa verdade, mas todos nós sabemos como as palavras ferem ou curam. Certas vezes empregamos tempo e energia imensos para tentar curar a dor causada por uma ruptura na relação, que não é mais senão a impossibilidade de seguir comunicando. E certamente essa cura, ou pelo menos esse alivio, passa pelo exercício da palavra: precisamos dividir com nossos companheiros de humanidade a dor e a alegria que nos envolvem. Não é bom que o homem esteja só, diz o Senhor no Livro do Gêneses. E ao contemplar a mulher, carne de mesma carne, somente então o homem possui o exercício da fala nas Escrituras. Talvez esteja aí nossa imagem e semelhança mais verdadeira com o Pai: a capacidade de expressarmo-nos.Mas aí estão também as serpentes, os perigos. Os profetas bem o sabem: uma palavra queima na boca, urgente, pedindo para ser dita. E essa palavra normalmente devorará sua própria vida, muitos deles vindo a morrer por conta do que é dito. No entanto, eis o paradoxo, a mensagem que sempre lemos, relemos, constantemente dita pelo Senhor é: arrependei-vos e voltai à Aliança. Essa Aliança era entendida como a fidelidade à Lei pelos Judeus, quer dizer, a prioridade absoluta do Senhor. E com Jesus Cristo, essa Aliança consiste em Amar, não porque a Lei foi revogada, mas porque o Amor é a plenitude da Lei, como nos diz São Paulo.Convidando a amar, porém, Aquele que é o Amor é posto à morte. Mesmo o Cristo não pode superar os limites da comunicação, porque esses limites são as fronteiras de nossa própria liberdade. A diferença é que aquele que ama insiste sempre no mesmo gesto, o de doar-se, o de abrir-se e, mesmo quando o outro se fecha e abre a era da violência, aquele que ama permanece humilde, fecundo.Por isso eu peço hoje ao Senhor que seja Ele nossa lucidez. Nos momentos em que as palavras faltam, que o silêncio faça germinar a paz e evite a violência. Quando as palavras ferirem ou quando houver incompreensão, que o silêncio seja berço de uma nova presença, e não sinal de ruptura. Quando as palavras pesarem feito cruz às costas, que o Espírito suscite gente que nos ajude a ouvir, a despejar as palavras de nosso cântaro de dor. Porque Deus está no coração e na vida daqueles que sempre insistem em comunicar-se, em traduzir-se para o bem dos outros.
Acesse e escute a reflexão:http://oracaopelaarte.blogspot.com/

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