Saber tocar o passado é uma habilidade. Tocar sem se deixar tomar por ele, porque a vida joga-se agora. Então do que falo? Falo da necessidade encantadora de estimular a memória, de levar o coração ao passado sem tirar as mãos do presente. Julgo que esta recordação nos pode ajudar no concreto: por um lado, ler os acontecimentos do dia com distância e por outro exercitar o agradecimento por tudo aquilo que dá corpo à nossa história. Não falo de uma distância fria e insensível, mas uma distância afectiva capaz de saborear e ver a beleza da vida, mesmo que traga dor. Porque assim serei capaz de ver para além do agradável ou do desagradável, do apetecível ou da repugnância, evitando o perigo do apreço precipitado. Ver longe e ver de longe. Este exercício pode levar-me, ainda, ao agradecimento, na medida em que for capaz de tomar como minha toda a história, mesmo aquilo de que não gosto ou de que me envergonho. Tudo, mas mesmo tudo, tem possibilidade de sentido.Que memória gostaria, hoje, de espreitar? Que novidade terá para me dizer? É que a habilidade deste toque, pode devolver o gosto sincero pela vida. Aqui já, no presente.
Nuno Branco
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