quinta-feira, 3 de abril de 2008

46ª. ASSEMBLEIA GERAL DOS BISPOS ITAICI DA CNBB

Homilia de dom Raimundo Damasceno Assis
Bela e louvável é a tradição de nossa Conferência de, a cada ano, celebrar a Eucaristia pelos irmãos falecidos desde a última assembléia.
No lapso de um ano, onze de nossos irmãos passaram desta vida para a Casa do Pai. Alguns deles mais jovens e com menos de dez anos de ordenação episcopal; outros - a maioria -, já idosos e um longo caminho percorrido a serviço do povo de Deus.
Ao fazer memória, nesta eucaristia, de nossos queridos e saudosos membros de nossa Conferência, queremos, unidos a Cristo, o Bom Pastor, elevar a Deus nossas preces em sufrágio por suas almas. Nesta celebração, louvamos e agradecemos a Deus pelas vidas de nossos irmãos, doadas até o fim ao Reino de Deus, no mister de pastores e guias espirituais de suas comunidades.
Na celebração da Páscoa definitiva de nossos irmãos no reino da vida eterna, após terem eles vencido toda sorte de provação, podemos repetir as palavras da epístola de São Tiago: “Feliz o homem que enfrenta a provação porque, uma vez reconhecido o seu valor, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tg 1,12)
Entre os bispos falecidos desde a última assembléia, peço-lhes permissão, caríssimos irmãos e irmãs, para destacar a figura de meu predecessor na Arquidiocese de Aparecida, o Cardeal Arcebispo Dom Aloísio Lorscheider, falecido no dia 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre. Nos últimos anos, passados na capital gaúcha junto aos seus confrades, na casa provincial, levou, como sabemos, vida simples e modesta.
Dom Aloísio exerceu importantes cargos na Igreja e os desempenhou com grande diligência e competência.
Entre muitas outras funções exercidas, foi Secretário-Geral e Presidente da CNBB, cargos que ocupou durante os difíceis anos do regime militar. Nesse período, Dom Aloísio, defendeu com firmeza o bem comum, os direitos humanos dos perseguidos pelo regime e o papel social da Igreja. Foi também Presidente do CELAM e da Cáritas Internacional e um dos Presidentes da Conferência de Puebla, no México. Participou de várias Comissões do Concílio Vaticano II.
“É bom ser importante, mas é muito mais importante ser bom”, dizia o bem-aventurado João XXIII. Dom Aloísio, embora tenha exercido funções da mais alta relevância, destacou-se sempre, e sobretudo, por sua imensa bondade e modéstia. Como poucos, compreendeu que todo cargo é serviço e, por isso, procurou testemunhar, na sua vida e no seu ministério, a paternidade de Deus e a bondade, a solicitude e a misericórdia de Cristo, o grande Pastor das ovelhas (Hb 13,20).
Seu testamento, escrito em Roma em 21 de junho de 1990, revela o seu grande amor à Igreja, o seu espírito de fé, a sua simplicidade, o despojamento das coisas materiais, marcas de sua espiritualidade.
Eis alguns trechos do testamento:
- “Nunca me afastei da orientação do Papa; a comunhão com ele é garantia de segurança rumo à Estação Eterna”;
- “Gratidão aos meus irmãos Cardeais, Arcebispos e Bispos. Aos padres, religiosos, cristãos leigos e pessoas de boa vontade que encontrei nestes meus anos de vida neste tempo”;
- “Amei muito a nossa Conferência. Quanta luz, quanta orientação, quanta dedicação... Ela é uma bênção para a nossa Igreja no Brasil. Também o CELAM”;
“Não existe morada mais feliz do que a morada do meu Senhor. Ele foi à frente preparar a morada. E ele nunca decepcionou a ninguém. Fico à espera de todos junto do Pai. Aproveitem o tempo que ainda lhes é dado. Só junto do Senhor, poderemos ser felizes”.
Caríssimos irmãos e irmãs: busquei esses trechos do testamento de Dom Aloísio para, neste momento de saudades, evocar sua memória, recordando-nos de quão simples e generosa foi a sua vida, de quão firme e segura foi a sua fé. Em breve resumo, a existência terrena de dom Aloísio foi toda tecida de santidade, amor e fidelidade. Por certo, tantas qualidades pessoais o farão sempre lembrado como um dos expoentes do episcopado brasileiro, um dos mais belos exemplos para todos quantos integram e vierem a integrar os quadros de nossa Conferência episcopal.
Irmãos e irmãs, nas palavras do evangelista João proclamadas nesta celebração, encontramos esta verdade: “Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos.” (Jo 3,34-35). Este trecho do evangelho mostra-nos a plenitude da graça que recebemos do Cristo ressuscitado, que é para nós a revelação de Deus, a revelação do amor de Deus, a nossa riqueza, o nosso maior tesouro. “Quem crê Nele – assegura-nos a Palavra de Deus - possui verdadeiramente a vida eterna” (Jo 3,36). No Cristo ressuscitado, essa vida nova está em nós.
O Papa Bento XVI, no Discurso Inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe fala-nos da importância única e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade: “Se não conhecemos Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se converte em um enigma indecifrável; não há caminho, e, ao não haver caminho, não há vida nem verdade” (DI 3). E em seu Discurso à Cúria Romana, em 21 de dezembro de 2007, Sua Santidade diz: “Em Jesus Cristo surgiu para nós uma grande Luz, a grande Luz: não a podemos colocar debaixo do alqueire, mas devemos pô-la no lucernário, para que, ilumine a quantos estão na casa (Mt5,15)”
Caríssimos irmãos e irmãs, os exemplos deixados por nossos irmãos falecidos nos inspirem e nos fortaleçam na missão que Cristo confiou aos apóstolos e a nós, bispos, seus sucessores: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).
Dom Raymundo Damasceno AssisArcebispo de Aparecida-SP
Assembléia Geral dos Bispos, Itaici/2008

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