No domingo passado o Paraguai elegeu para seu presidente um bispo católico, D. Fernando Lugo. Ele vai tomar posse a 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Assunção, padroeira do Paraguai, de onde sua capital recebe o nome.
O significado desta eleição não se limita ao fato raro e singular de um bispo concorrer à presidência de república, e ser eleito por expressiva maioria. Estamos diante de um dos verdadeiros “sinais dos tempos”, que precisa ser bem interpretado, pois aponta para muitas direções.
A imprensa do Brasil foi surpreendida pelo resultado, porque pouco tinha se interessado em acompanhar o processo eleitoral neste país que é nosso vizinho, e com o qual temos tantas realidades em comum, inclusive nossa maior usina hidroelétrica. O colonialismo cultural que ainda nos envolve é capaz de fornecer detalhes esdrúxulos das prévias norte-americanas, enquanto desconhece lances decisivos da história que partilhamos com nossos vizinhos latino americanos.
A eleição de Fernando Lugo significa a afirmação da identidade de um povo, desejoso de assumir sua história, e ansioso por ver respeitada sua dignidade e sua capacidade de participar, em pé de igualdade, na construção da solidariedade latino americana.
Em Fernando Lugo, o povo do Paraguai enfatiza sua legítima soberania, e afirma suas responsabilidades.
A eleição de um bispo católico como presidente da república traz consigo uma clara proposta patriótica, ética e política. No seu novo presidente, o povo paraguaio quer expressar sua capacidade de construir uma nação baseada em valores morais que servem de fundamento, tanto para a convivência interna como externa.
Sem dúvida nenhuma, a eleição de Fernando Lugo cria um novo patamar de relacionamento do Paraguai com os outros países, e de maneira muito especial com o Brasil. Nossos povos partilham situações comuns, que pedem um entendimento aberto, franco e baseado na justiça e na solidariedade.
Uma dessas situações é Itaipu, a maior hidroelétrica do mundo, e símbolo inequívoco da riqueza natural do Paraguai, constituída dos dois rios que desenham sua geografia, o Paraguai e o Paraná.
A própria construção desta hidroelétrica consagrou o desperdício, cujas conseqüências ainda estamos pagando, por 50 anos, em forma de amortização dos empréstimos. Orçada no início em cinco bilhões de dólares, precisou depois duplicar o seu orçamento para dez, e finalmente aumentar para quinze bilhões, sem contar os custos posteriores das linhas de transmissão. Estas realidades precisam agora ser colocadas com franqueza na mesa das negociações, para atender à justa aspiração do Paraguai de receber um preço melhor pela energia que por força de contrato ele vende para o Brasil.
Esta causa se constituiu em motivo central da campanha eleitoral que levou Lugo à presidência. Ela precisa agora encontrar acolhida junto ao governo brasileiro, inclusive para sinalizar a fecunda colaboração que os dois povos são chamados a efetivar daqui para a frente, dentro do novo marco de relacionamento, decorrente destas eleições.
Outra situação que merece agora um tratamento novo e diferenciado é constituída pelos “brasiguaios”. Eles expressam a entranhada relação existente entre Brasil e Paraguai, como não se verifica com nenhum outro país da América Latina.
Posso imaginar o que se passa agora na cabeça de Fernando Lugo, recordando os encontros que fazíamos como bispos do Celam, sonhando com a integração fraterna dos povos latino americanos. Ele carregava uma inquietação política, que o levou a renunciar à própria diocese, para colaborar na caminhada do seu povo como cidadão comum. De repente, o povo paraguaio lhe confiou a enorme tarefa de resgatar a dignidade do seu país, sacudindo equívocos internos e postulando justiça e respeito internacional.
Lugo, vá em frente! Estamos torcendo por você. Seu nome expressa urgência. Lugo e “logo” carregam a mesma insistência. Pode contar com nosso apoio. Que Deus o ajude a cumprir esta nova missão que a Providência lhe confiou!
O significado desta eleição não se limita ao fato raro e singular de um bispo concorrer à presidência de república, e ser eleito por expressiva maioria. Estamos diante de um dos verdadeiros “sinais dos tempos”, que precisa ser bem interpretado, pois aponta para muitas direções.
A imprensa do Brasil foi surpreendida pelo resultado, porque pouco tinha se interessado em acompanhar o processo eleitoral neste país que é nosso vizinho, e com o qual temos tantas realidades em comum, inclusive nossa maior usina hidroelétrica. O colonialismo cultural que ainda nos envolve é capaz de fornecer detalhes esdrúxulos das prévias norte-americanas, enquanto desconhece lances decisivos da história que partilhamos com nossos vizinhos latino americanos.
A eleição de Fernando Lugo significa a afirmação da identidade de um povo, desejoso de assumir sua história, e ansioso por ver respeitada sua dignidade e sua capacidade de participar, em pé de igualdade, na construção da solidariedade latino americana.
Em Fernando Lugo, o povo do Paraguai enfatiza sua legítima soberania, e afirma suas responsabilidades.
A eleição de um bispo católico como presidente da república traz consigo uma clara proposta patriótica, ética e política. No seu novo presidente, o povo paraguaio quer expressar sua capacidade de construir uma nação baseada em valores morais que servem de fundamento, tanto para a convivência interna como externa.
Sem dúvida nenhuma, a eleição de Fernando Lugo cria um novo patamar de relacionamento do Paraguai com os outros países, e de maneira muito especial com o Brasil. Nossos povos partilham situações comuns, que pedem um entendimento aberto, franco e baseado na justiça e na solidariedade.
Uma dessas situações é Itaipu, a maior hidroelétrica do mundo, e símbolo inequívoco da riqueza natural do Paraguai, constituída dos dois rios que desenham sua geografia, o Paraguai e o Paraná.
A própria construção desta hidroelétrica consagrou o desperdício, cujas conseqüências ainda estamos pagando, por 50 anos, em forma de amortização dos empréstimos. Orçada no início em cinco bilhões de dólares, precisou depois duplicar o seu orçamento para dez, e finalmente aumentar para quinze bilhões, sem contar os custos posteriores das linhas de transmissão. Estas realidades precisam agora ser colocadas com franqueza na mesa das negociações, para atender à justa aspiração do Paraguai de receber um preço melhor pela energia que por força de contrato ele vende para o Brasil.
Esta causa se constituiu em motivo central da campanha eleitoral que levou Lugo à presidência. Ela precisa agora encontrar acolhida junto ao governo brasileiro, inclusive para sinalizar a fecunda colaboração que os dois povos são chamados a efetivar daqui para a frente, dentro do novo marco de relacionamento, decorrente destas eleições.
Outra situação que merece agora um tratamento novo e diferenciado é constituída pelos “brasiguaios”. Eles expressam a entranhada relação existente entre Brasil e Paraguai, como não se verifica com nenhum outro país da América Latina.
Posso imaginar o que se passa agora na cabeça de Fernando Lugo, recordando os encontros que fazíamos como bispos do Celam, sonhando com a integração fraterna dos povos latino americanos. Ele carregava uma inquietação política, que o levou a renunciar à própria diocese, para colaborar na caminhada do seu povo como cidadão comum. De repente, o povo paraguaio lhe confiou a enorme tarefa de resgatar a dignidade do seu país, sacudindo equívocos internos e postulando justiça e respeito internacional.
Lugo, vá em frente! Estamos torcendo por você. Seu nome expressa urgência. Lugo e “logo” carregam a mesma insistência. Pode contar com nosso apoio. Que Deus o ajude a cumprir esta nova missão que a Providência lhe confiou!
* Dom Luiz Demétrio Valetini, 68, é bispo de Jales (SP) e presidente da Cáritas Brasileira
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