“A Igreja tem necessidade de vós, conta convosco e continua a dirigir-se a vós com confiança, em particular para alcançar aqueles lugares geográficos e espirituais onde os outros não chegam ou têm dificuldade em chegar” – declarou Bento XVI dirigindo-se aos duzentos e vinte participantes na Congregação geral da Companhia de Jesus. Este numeroso grupo de representantes dos Jesuítas de todo o mundo era encabeçado pelo novo Prepósito Geral, Padre Adolfo Nicolás, acompanhado pelo Padre Kolvenbach, a quem o Papa agradeceu o “precioso serviço de governo” por ele desempenhado “durante quase um quarto de século”. O Papa começou por observar que esta Congregação Geral “se realiza num período de grandes transformações sociais, económicas, políticas” e “de “acentuados problemas éticos, culturais e ambientais, de conflitos de todo o género”; mas “também de comunicações mais intensas entre os povos, de novas possibilidades de conhecimento e de diálogo, de profundas aspirações à paz”. Trata-se de situações que “interpelam a Igreja, e a sua capacidade de anunciar aos nossos contemporâneos a Palavra de esperança e de salvação”. Bento XVI faz votos de que “toda a Companhia de Jesus”, na sequência desta Congregação Geral, “possa viver com renovado impulso e fervor a missão para a qual o Espírito a suscitou na Igreja”.Ora – recordou Bento XVI – a Companhia de Jesus encontra-se “instituída antes de mais para a defesa e propagação da fé”, segundo a fórmula das Constituições. “Num tempo em que se abriam novos horizontes geográficos, os primeiro companheiros de Inácio tinham-se colocado à disposição do Papa para que os utilizasse onde achasse que seria para maior glória de Deus e utilidade das almas. Foram assim enviados a anunciar o Senhor a povos e culturas que ainda O não conheciam”. E fizeram-no “com uma coragem e um zelo que continuam a ser de exemplo e inspiração para os nossos dias”.“Hoje em dia os novos povos que não conhecem o Senhor, ou que O conhecem mal, ao ponto de não O conseguirem reconhecer como Salvador, estão longe não tanto do ponto de vista geográfico mas sobretudo cultural. Não são os mares ou as grandes distâncias os obstáculos que desafiam os anunciadores do Evangelho, mas sim as fronteiras que, na sequência de uma errada ou superficial visão de Deus e do homem se vêm a interpor entre a fé e o saber humano, entre a fé e a ciência moderna, a fé e o empenho a favor da justiça.A Igreja tem por isso urgente necessidade de pessoas de fé sólida e profunda, de cultura séria e de genuína sensibilidade humana e social, de religiosos e de padres que dedicam a sua vida a estarem precisamente nestas fronteiras, para testemunhar e ajudar a compreender que existe uma harmonia profunda entre fé e razão, entre espírito evangélico, sede de justiça e acção a favor da paz”.A isto se devem portanto dedicar “preferencialmente” a Companhia de Jesus – advertiu Bento XVI:“Fiel à sua melhor tradição, ela deve continuar a formar cuidadosamente os seus membros na ciência e na virtude, sem se contentar com a mediocridade, dado que a tarefa de confronto e diálogo com os contextos muito diferentes do mundo de hoje é das mais difíceis e árduas. É esta preocupação de qualidade e de solidez humana, espiritual e cultural que deve caracterizar também toda a múltipla actividade formativa e educativa dos Jesuítas, em relação aos mais diversos tipos de pessoas, onde quer que se encontrem”. Recordando as “extraordinárias experiências de anúncio e de encontro entre o Evangelho e as culturas do mundo”, que a Companhia de Jesus “justamente se orgulha”, o Papa exortou os Jesuítas a dar prova de idêntica “coragem e inteligência” e uma “igualmente profunda motivação de fé e paixão de servir o Senhor e a sua Igreja”. Mas com uma advertência:“Procurando reconhecer os sinais da presença e da acção de Deus em toda a parte do mundo, mesmo para além dos confins da Igreja visível, e esforçando-vos por construir pontes de compreensão e de diálogo com quem não pertence à Igreja ou tem dificuldade de aceitar as suas posições e mensagens, deveis ao mesmo tempo assumir lealmente o peso do dever fundamental da Igreja de manter-se fiel ao seu mandato de aderir totalmente à Palavra de Deus e da tarefa do Magistério de conservar a verdade e a unidade da doutrina católica na sua inteireza”. Na parte final do seu longo e circunstanciado discurso aos membros da Companhia de Jesus, Bento XVI recordou ainda o “quarto voto” de obediência ao Sucessor de Pedro, e recomendou calorosamente “o amor aos pobres”, sublinhando que esta escolha não é ideológica: “Para nós a escolha dos pobres não é ideológica, mas nasce do Evangelho. São inumeráveis e dramáticas as situações de injustiça e de pobreza no mundo de hoje, e se há que empenhar-se a compreender e combater as suas causas estruturais, é preciso também conseguir chegar a combater até ao próprio coração do homem as raízes profundas do mal, o pecado que o separe de Deus, sem deixar de ir ao encontro das necessidades mais urgentes no espírito da caridade de Cristo”.
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