Bento XVI recebeu em audiência, esta manhã, na Sala Clementina, no Vaticano, os 226 membros da 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, que há um mês elegeu o novo prepósito geral, Pe. Adolfo Nicolás.Em seu discurso aos presentes, o Santo Padre lembrou que, por um lado, há um mundo que é "teatro de uma batalha entre o bem e o mal": onde o mal se incuba no individualismo de idéias e ações que relativisam o sagrado, se propaga mediante a "confusão de mensagens", que tornam difícil a escuta da Mensagem de Cristo, e se estagna naquelas "situações de injustiça" e de conflito das quais os pobres são as primeiras vítimas.Por outro lado, há uma Ordem religiosa que em quase quinhentos anos foi capaz de desafiar toda diversidade histórica e cultural, e de levar realmente o Evangelho aos confins do mundo, graças à inteligência e à abnegação de pessoas que respondem pelo nome de Francisco Xavier, Matteo Ricci ou Roberto De Nobili, somente para citar os mais renomados.Esses exemplos servem ainda hoje, e Bento XVI pediu à Companhia de Jesus que forme "pessoas de fé sólida e profunda, de cultura séria e de genuína sensibilidade humana e social":"Como reiteradas vezes os meus Predecessores disseram aos senhores, a Igreja precisa de vocês, conta com vocês, e continua dirigindo-se a vocês com confiança, em particular para alcançar aqueles lugares físicos e espirituais aonde outros não chegam ou têm dificuldade de chegar."Hoje _ constatou o papa _ não são tanto "os mares ou as grandes distâncias os obstáculos que desafiam os anunciadores do Evangelho, mas as fronteiras que, seguindo uma errada ou superficial visão de Deus e do homem, se interpõem entre a fé e o saber humano, a fé e a ciência moderna, a fé e o compromisso com a justiça".Sobre essas fronteiras _ relançou Bento XVI _ os jesuítas devem, por sua vez, "testemunhar e ajudar a compreender que há, ao invés, uma harmonia entre fé e razão", a ser traduzida numa defesa daqueles "pontos nevrálgicos hoje fortemente atacados pela cultura secular".Em síntese, o matrimônio e a família, a moral sexual, a questão da salvação de todos os homens em Cristo:"Justamente por isso os convidei e os convido a refletirem para encontrar o sentido mais pleno daquele característico 'quarto voto' de obediência de vocês ao Sucessor de Pedro, que não comporta somente a prontidão a ser enviados em missão a terras distantes, mas também _ no mais genuíno espírito inaciano do 'sentir com a Igreja e na Igreja' _ a 'amar e servir' o Vigário de Cristo na terra com aquela devoção 'efetiva e afetiva' que deve fazer dos senhores os preciosos e insubstituíveis colaboradores do papa em seu serviço à Igreja presente no mundo inteiro."Uma fidelidade que pouco antes, em sua saudação ao pontífice, o novo prepósito geral da Companhia, Pe. Adolfo Nicolás, havia reiterado de modo contundente:"Entristece-nos, Santo Padre, que as inevitáveis insuficiências e superficialidades de alguns entre nós sejam por vezes utilizadas para dramatizar e representar como conflitos e oposições aquelas que comumente são apenas manifestações de limites e imperfeições humanas, ou inevitáveis tensões do viver cotidiano. Mas tudo isso não nos desencoraja, nem atenua a nossa paixão, não somente a servir a Igreja, mas também, com maior radicalidade, segundo o espírito e a tradição inaciana, a amar a Igreja hierárquica e o Santo Padre, Vigário de Cristo."Bento XVI expressou apreço pelas obras de solidariedade com as quais os jesuítas _ na esteira, disse, de uma "das últimas intuições de visão de Pe. Arrupe" _ se colocaram a serviço dos refugiados. Ao chamar a atenção para que tais obras "conservem sempre uma clara e explícita identidade", que não prejudique a bondade do trabalho apostólico, o papa se deteve sobre o sentido cristão do serviço aos que se encontram necessitados:"Para nós a opção pelos pobres não é ideológica, mas nasce do Evangelho. São inúmeras e dramáticas as situações de injustiça e de pobreza no mundo de hoje, e é preciso comprometer-se a compreender e a combater as suas causas estruturais. É necessário também saber combater até no próprio coração do homem as raízes profundas do mal, o pecado que o separa de Deus, sem esquecer ir ao encontro das necessidades mais urgentes no espírito da caridade de Cristo."Bento XVI reservou a conclusão do amplo discurso à importância dos exercícios espirituais, há pouco realizados no Vaticano, e à sua prática fundamental na espiritualidade de Santo Inácio de Loyola. São um "instrumento precioso e eficaz _ reconheceu o papa _ para distinguir a voz de Deus na rápida e muitas vezes caótica mutação dos eventos e das mensagens hodiernas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário