quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

DAQUI A DEZ ANOS (Coluna Peregrino)



Dizem que daqui a dez anos boa parte da Amazônia terá se convertido em savana e quase não haverá mais gelo na Groenlândia. Muito pode acontecer nos próximos dez anos. Dez anos, porém, passam rápido. Onde quero estar daqui a dez anos?O recurso de projetar um futuro relativamente próximo é muito usado por especialistas de planejamento. Dez anos são como uma régua que nos ajuda a medir um futuro que ainda não existe, um futuro que ainda não saiu de nossas mãos mas que já podemos vislumbrar. Esse método também é usado por Santo Inácio, que em seus Exercícios Espirituais propõe o seguinte exercício:“Situando-me na hora da morte, considerar de que forma e medida quereria ter procedido quanto a essa escolha [que agora considero]”. [EE.EE. 186]Em outras palavras, olhando para trás, a qual identidade eu gostaria de ser associado? Que tipo de vida devo começar a viver para no futuro ter gostado de tê-la vivido? É um exercício que tem sua dose de racionalidade, mas cujo segredo está nos sentimentos, no que Inácio chama de “moções espirituais”.Há dois tipos de moção ou movimento espiritual: consolação e desolação. Simplificando, um movimento leva à paz e plenitude interior, outro provoca um ensombrecimento da alma. Esses movimentos estão sempre associados às opções que desejamos fazer, aos projetos que alimentamos. Alguns são acompanhados dessa alegria interior, outros de uma inquietação ou tristeza, ainda que disfarçados de certa euforia. O segredo de Inácio é perceber que Deus se comunica conosco através desses sentimentos. Escolher é difícil. Mas temos nesses sentimentos um sinal da companhia de um Deus que murmura sabedoria em nosso coração.Pensar nos próximos dez anos pode ajudar-nos a amplificar nossa escuta e ouvir com Deus a voz de nosso coração. Com Ele encontraremos indicações sobre o que podemos escolher e, talvez mais difícil, sobre o que devemos deixar. A nossa vida, de fato, é uma escultura que modelamos a golpe de decisões. E ela é marcada tanto pelas estradas que deixamos quanto por aquelas que escolhemos. Podemos imaginar-nos na hora de nossa morte e perguntar-nos se valeu a pena. Ou podemos antecipar nosso futuro e imaginar onde queremos estar daqui a dez anos.

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