A nova fronteira da Companhia de Jesus. Comentário de um vaticanista.
Há um elemento de continuidade entre o padre Adolfo Nicolás, eleito há quatro dias como novo superior geral da Companhia de Jesus, e o seu predecessor, entre 1965 e 1983, Pedro Arrupe. O comentário é de Sandro Magister, vaticanista italiano, 23-01-2008, na página eletrônica 'chiesa' Ambos nasceram na Espanha e ambos trabalharam, por muitos anos, no Japão.
Também o padre Giuseppe Pittau, que foi o regente da Companhia de Jesus durante a doença de Arrupe, trabalhou por longos anos em Tóquio, onde foi reitor da Universidade de Sofia, fundada pelos jesuítas em 1913.
O novo geral Adolfo Nicolás, que fará 72 anos no próximo mês de abril, viveu no Extremo Oriente desde 1964, especialmente em Tóquio, como professor de teologia na Sophia University, como provincial dos jesuítas do Japão e, por último, como presidente da Conferência dos Provinciais da Ásia Oriental e Oceania.
Nesta ligação entre os atuais sucessores de Santo Inácio de Loyola e o Extremo Oriente há uma fidelidade às origens da Companhia – a São Francisco Xavier, grande evangelizador daquelas terras – mas há também uma vontade de estar presente numa fronteira crítica da Igreja, hoje, a da missão na Ásia.
A Ásia é hoje o menos cristianizado dos cinco continentes. Mas não foi sempre assim. Desde a origem, uma grande diretriz de expansão do cristianismo foi o Oriente, até a Pérsia, a Índia, a China. Desde as origens o cristianismo não foi um fenômeno europeu, depois exportado como tal para outras civilizações, mas uma fé articulada com muitas culturas.
Bento XVI, apesar de ser tenaz no reafirmar a inserção originária da fé bíblica na sabedoria grega, muitas vezes tem acentuado esta “pluriformidade cultural” do cristianismo nos seus inícios.
Na última vez que o fez, foi na audiência das quarta-feiras, no dia 28-11-2007. No início da sua catequese aos fiéis, dedicada naquele dia a ilustrar a figura de um Padre da Igreja, o siriano Santo Efrém, ele, improvisando, falou:
“Caros irmãos e irmãs, segundo a opinião comum de hoje, o cristianismo seria uma religião européia, que teria exportado a cultura deste continente para outros países. Mas a realidade é muito mais complexa, já que a raiz da religião cristã se encontra no Antigo Testamento e, portanto, em Jerusalém e no mundo semítico. O cristianismo se nutre sempre desta raiz do Antigo Testamento. Também a sua expansão nos primeiros séculos se deu tanto na direção do Ocidente – para o mundo Greco-latino, onde depois inspirou a cultura européia – como para o Oriente, até a Pérsia, a Índia, contribuindo assim no suscitar uma cultura específica, em línguas semíticas, com uma identidade própria. Para mostrar esta pluriformidade cultural da única fé cristã dos inícios, na catequese da quarta-feira passada, falei de um representante deste outro cristianismo, Afraate, o sábio persa, desconhecido por nós. Na mesma linha quero falar hoje de Santo Efrém, o sírio...”.
Qual é, a propósito, a visão do novo geral dos jesuítas, Adolfo Nicolás?
Para entendê-lo, é útil reler um artigo por ele publicado no nº. 3, de 2005, da revista internacional de teologia “Concilium”, uma publicação que sobre a relação entre o cristianismo e as outras religiões e culturas nem sempre coincide com a doutrina oficial.
As Notícias Diárias, no domingo, dia 20-01-2008, publicaram uma ampla síntese do artigo.
Com efeito, neste artigo, padre Nicolás escreve que a Igreja tem o dever de reconhecer “a riqueza religiosa das outras religiões e a salvação real e eficaz que elas levaram a milhares de gerações”: uma tese que faria levantar os supercílios de alguns prelados das congregações vaticanas para a doutrina da fé.
Mas o interesse maior do artigo de padre Nicolás não está nas respostas que dá, mas nas questões que levanta. Questões, em grande medida, que permanecem abertas, que ele convida a afrontar como “serviço desinteressado, sem condições, porque somente Deus é a força” como falou na sua primeira homilia como geral dos jesuítas, no domingo passado.
Com este espírito, padre Nicolás se diz pronto para afrontar também os aparentes insucessos. Entre os jesuítas, logo depois do final da segunda guerra mundial, havia a convicção de que o Japão fosse a terra fértil de uma grande expansão missionária. Por isso enviaram, de vários países, pessoas de primeira ordem. Mas a colheita de conversões não se deu.
O Japão não é a única fronteira crítica do cristianismo na Ásia. Mas ela está sob a crescente atenção por parte da Igreja de Roma. Um sinal desta atenção é a beatificação, no dia 24-11-2008, em Nagasaki, do jesuíta Pietro Kibe Kasui e dos 187 companheiros martirizados entre 1603 e 1639.
Há um elemento de continuidade entre o padre Adolfo Nicolás, eleito há quatro dias como novo superior geral da Companhia de Jesus, e o seu predecessor, entre 1965 e 1983, Pedro Arrupe. O comentário é de Sandro Magister, vaticanista italiano, 23-01-2008, na página eletrônica 'chiesa' Ambos nasceram na Espanha e ambos trabalharam, por muitos anos, no Japão.
Também o padre Giuseppe Pittau, que foi o regente da Companhia de Jesus durante a doença de Arrupe, trabalhou por longos anos em Tóquio, onde foi reitor da Universidade de Sofia, fundada pelos jesuítas em 1913.
O novo geral Adolfo Nicolás, que fará 72 anos no próximo mês de abril, viveu no Extremo Oriente desde 1964, especialmente em Tóquio, como professor de teologia na Sophia University, como provincial dos jesuítas do Japão e, por último, como presidente da Conferência dos Provinciais da Ásia Oriental e Oceania.
Nesta ligação entre os atuais sucessores de Santo Inácio de Loyola e o Extremo Oriente há uma fidelidade às origens da Companhia – a São Francisco Xavier, grande evangelizador daquelas terras – mas há também uma vontade de estar presente numa fronteira crítica da Igreja, hoje, a da missão na Ásia.
A Ásia é hoje o menos cristianizado dos cinco continentes. Mas não foi sempre assim. Desde a origem, uma grande diretriz de expansão do cristianismo foi o Oriente, até a Pérsia, a Índia, a China. Desde as origens o cristianismo não foi um fenômeno europeu, depois exportado como tal para outras civilizações, mas uma fé articulada com muitas culturas.
Bento XVI, apesar de ser tenaz no reafirmar a inserção originária da fé bíblica na sabedoria grega, muitas vezes tem acentuado esta “pluriformidade cultural” do cristianismo nos seus inícios.
Na última vez que o fez, foi na audiência das quarta-feiras, no dia 28-11-2007. No início da sua catequese aos fiéis, dedicada naquele dia a ilustrar a figura de um Padre da Igreja, o siriano Santo Efrém, ele, improvisando, falou:
“Caros irmãos e irmãs, segundo a opinião comum de hoje, o cristianismo seria uma religião européia, que teria exportado a cultura deste continente para outros países. Mas a realidade é muito mais complexa, já que a raiz da religião cristã se encontra no Antigo Testamento e, portanto, em Jerusalém e no mundo semítico. O cristianismo se nutre sempre desta raiz do Antigo Testamento. Também a sua expansão nos primeiros séculos se deu tanto na direção do Ocidente – para o mundo Greco-latino, onde depois inspirou a cultura européia – como para o Oriente, até a Pérsia, a Índia, contribuindo assim no suscitar uma cultura específica, em línguas semíticas, com uma identidade própria. Para mostrar esta pluriformidade cultural da única fé cristã dos inícios, na catequese da quarta-feira passada, falei de um representante deste outro cristianismo, Afraate, o sábio persa, desconhecido por nós. Na mesma linha quero falar hoje de Santo Efrém, o sírio...”.
Qual é, a propósito, a visão do novo geral dos jesuítas, Adolfo Nicolás?
Para entendê-lo, é útil reler um artigo por ele publicado no nº. 3, de 2005, da revista internacional de teologia “Concilium”, uma publicação que sobre a relação entre o cristianismo e as outras religiões e culturas nem sempre coincide com a doutrina oficial.
As Notícias Diárias, no domingo, dia 20-01-2008, publicaram uma ampla síntese do artigo.
Com efeito, neste artigo, padre Nicolás escreve que a Igreja tem o dever de reconhecer “a riqueza religiosa das outras religiões e a salvação real e eficaz que elas levaram a milhares de gerações”: uma tese que faria levantar os supercílios de alguns prelados das congregações vaticanas para a doutrina da fé.
Mas o interesse maior do artigo de padre Nicolás não está nas respostas que dá, mas nas questões que levanta. Questões, em grande medida, que permanecem abertas, que ele convida a afrontar como “serviço desinteressado, sem condições, porque somente Deus é a força” como falou na sua primeira homilia como geral dos jesuítas, no domingo passado.
Com este espírito, padre Nicolás se diz pronto para afrontar também os aparentes insucessos. Entre os jesuítas, logo depois do final da segunda guerra mundial, havia a convicção de que o Japão fosse a terra fértil de uma grande expansão missionária. Por isso enviaram, de vários países, pessoas de primeira ordem. Mas a colheita de conversões não se deu.
O Japão não é a única fronteira crítica do cristianismo na Ásia. Mas ela está sob a crescente atenção por parte da Igreja de Roma. Um sinal desta atenção é a beatificação, no dia 24-11-2008, em Nagasaki, do jesuíta Pietro Kibe Kasui e dos 187 companheiros martirizados entre 1603 e 1639.
Fonte: www.jesuita.org.br
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