Sob o título acima, o jornal espanhol El País, 14-01-2008, publica uma reportagem sobre a 35ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, que iniciou há uma semana, em Roma.A reportagem destaca as 200 universidades e mais de 700 colégios da Companhia de Jesus em 90 províncias que abarcam três quartas partes do planeta. “Tão majestosa estrutura tem uma única falha: os apenas 19.200 membros da ordem não podem atender as instituições criadas ao longo da sua históra centenária. Urge se reagrupar, eliminar fronteiras burocráticas. Urge encontrar novas iniciativas capazes de mobilizar os leigos, uma força auxiliar de quem não se pode mais prescindir”.Segundo a reportagem, estas são realidades que condicionam o perfil do homem destinado a guiar os jesuítas no século XXI, o novo Superior Geral que será eleito nos próximos dias, em Roma. Quer-se um homem carismático, dinamizador, outro Pedro Arrupe, apesar dos desencontros com o Vaticano? Ou se prefere uma figura discreta, moderada, como o superior geral que se aposenta agora, Peter-Hans Kolvenbach?“Depois de quase 25 anos, a missão de Kolvenbach foi cumprida”, opina Ignácio Arregui, jesuíta com uma grande experiência na Rádio Vaticana. “Talvez seria bom dar um passo em outra direção, buscar uma mudança de estilo. Não se trata de falar de vanguardistas, carismáticos ou conservadores, mas de encontrar uma pessoa aberta à realidade, capaz de buscar os sinais dos tempos”. Alguém com a capacidade de detectar com antecipação os problemas do mundo global, capaz quase de adivinhar por onde vão se abrindo as costuras da sociedade”.“O caminho feito por Kolvenbach conclui a era Arrupe”, afirma Luis López-Yarto, vice-provincial da província de Castilla. “Kolvenbach seguiu o mesmo caminho. Ainda que não lhe tocou lidar com momentos históricos tão duros como a Arrupe. Por isso se diz que é mais moderado”. Rebeliões internas e deserções em massa de jesuítas. Tudo isso terminou, ainda que a falta de vocações se tenha agudizado, até chegar a um extremo que faz temer pelo futuro das instituições e a missão da Companhia.Por isso, reconhece López-Yarto, “um dos temas fundamentais da Congregação Geral que se celebra em Roma é precisamente o da reorganização do governo da ordem”. Isso porque os 4 mil jesuítas dedicados à educação não podem atender seus prestigiados centros. A universidade de Georgetown, em Washington, tem um reitor que é leigo. Em Deusto, em Bilbao, de 1659 professores, somente 47 são jesuítas e destes, somente 24 em atividade, o resto são eméritos.A idade média dos 225 delegados reunidos em Roma (226 se se inclui o próprio Kolvenbach) é de um pouco mais de 56 anos. Uma média quase juvenil se compara com as idades de provinciais e reitores no mundo desenvolvido.Contudo, os jesuítas não renunciam, segundo a reportagem do jornal espanhol, de manter-se na vanguarda do mundo cristão. Nas propostas que se discutirão na Congregação Geral figura, juntamente com a justiça social, o trabalho com os pobres ou os imigrantes, o tema da ecologia. “Entendida como defesa da justiça sócio-ambiental” precisa Arregui.Esta forma de entender o seu apostolado, levou-os, constata o jornal espanhol, a mais de um conflito com a hierarquia espanhola e com a vaticana. Em Madrid e em Roma, as publicações da Companhia são revisadas com lupa. Temas como o da contracepção, ou os cristãos homossexuais se abordam com muita naturalidade e isso não sempre agrada. A revista Civiltà Cattolica é submetida ao controle do atual ‘primeiro ministro’ vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone.Nada disso impede, contudo, que a ordem controle há mais de 50 anos a Rádio Vaticana, a “voz do Papa”, o meio de propaganda mais poderoso da Santa Sé. São contradições somente aparentes, explica um jesuíta. “A Companhia sempre respeitou o voto de obediência ao Papa, mas não renuncia à liberdade na hora de analisar o mundo exterior”. Um mundo no que ela tem que se apoiar para sobreviver, atenta em detectar “os sinais dos tempos”, tal como recomendava o próprio Santo Inácio.Fonte: http://www.jesuitbrm.org.br/
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