quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

"O PERFIL DE ADOLFO NICOLÁS"

Segundo um teólogo espanhol Juan José Tamayo, teólogo espanhol, descreve o perfil de Adolfo Nicolás, superior geral da Companhia de Jesus eleito dia 19-01-2008. O artigo está publicado no jornal El País, 20-01-2008. Os Cadernos Teologia Pública, no. 33, publicam o artigo Espiritualidade e respeito à diversidade, de Juan José Tamayo. O texto está disponível em www.unisinos.br/ihu para download.
Eis o artigo.
Dia 19 de janeiro de 2008 foi eleito como Superior Geral da Companhia de Jesus o palentino (de Palência)
Adolfo Nicolás. Contra todo prognóstico? Creio que não. Na Congregação Geral de 1983, da qual foi secretário geral, foi um dos nomes que mais circulou para suceder a Arrupe, com quem tinha uma série de semelhanças: os dois são espanhóis; foram destinados, ainda muito jovens, para o Japão (Arrupe em 1938; Nicolás em 1961), onde se enraizaram; se comprometeram com a renovação da Companhia de Jesus numa tríplice direção: a inculturação da fé frente ao imperialismo cultural-cristão ocidental, a luta pela justiça como critério de verificação da fé e o diálogo com o mundo moderno, caracterizado pela secularização. Teria sido um excelente continuador da linha renovadora aberta pelo padre Arrupe em sintonia com o Concílio Vaticano II. Se então tivesse sido eleito, o confronto Vaticano-Companhia de Jesus era mais do que previsível. No final se impôs a proverbial prudência jesuítica e foi eleito o holandês Kolvenbach, pessoa mais dócil que podia recompor as deterioradas relações com o Vaticano, sem se dobrar servilmente aos ventos restauradores que então eram fortes. De fato, durante o governo Kolvenbach, numerosos jesuítas seguiram na vanguarda da libertação no Terceiro Mundo e na elaboração de uma teologia crítica.
Normalizadas as relações com o Vaticano, os delegados da Congregação Geral optaram por recuperar a linha de Arrupe, adaptada agora aos novos desafios. Nicolás é uma pessoa que conta com uma sólida bagagem teológica, uma presença ininterrupta durante quase quarenta anos na Ásia, onde está se produzindo uma revitalização do cristianismo, com uma prolongada experiência de governo e de cabeça aberta e moderadamente crítico com o Vaticano, ante quem, seguramente, não vai se dobrar. Nicolás é um teólogo profissional que dedicou boa parte da sua vida à docência teológica. Defendeu sua tese doutoral em 1971 na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, sob a direção de Juan Alfaro, assessor do Concílio Vaticano II e um dos teólogos católicos “maiores” que, juntamente com Karl Rahner, Congar e Schillebeeckx, contribuiu decisivamente para a renovação da teologia, recém saída da mais rançosa escolástica. O título e o tema da tese refletem bem claramente seu pensamento: Teologia do progresso. Trata-se de um estudo rigoroso das teologias surgidas depois da Segunda Guerra Mundial, com as quais sintoniza: teologia das realidades terrestres, do trabalho, da história, antropologia teológica, teologia política, teologia do progresso humano. O livro de Nicolás foi uma luz ideológica durante os meus estudos de teologia durante a primeira metade dos anos 1970. É tão atual como na época em que foi escrito.
O novo geral é um comprometido com o diálogo inter-religioso num mundo como o do Extremo Oriente caracterizado pelo universo religioso e a diversidade cultural. Uma pequena história. Numa de suas viagens a Madrid comprou o livro de Hans Küng, O cristianismo. Essência e história e o mostrou, com satisfação, a alguns companheiros jesuítas porque o teólogo alemão defendia um
projeto de ética mundial e a convergência das religiões na defesa da vida, de uma cultura da não violência, do trabalho pela paz, da luta pela justiça e do meio ambiente e da superação de todo tipo de discriminações. Isso facilitará o diálogo intercultural e inter-religioso. E, desejamos, também com o Vaticano!

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